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― Eva, acorda!

Ouço a voz de Andros em algum lugar.

― Eva! ― ele chama impaciente e tenho a sensação de que começou a chover, mas é só meu irmão espirrando água do lago no meu rosto com as mãos.

― Aí... o que foi?! ― digo limpando as gotas do rosto.

Estamos no deque de madeira que avança alguns metros além da margem do lago. Deitados no chão, olhando as nuvens do final da tarde, e com os pés descalços tocando as águas negras do lago da fazenda.

― Daqui a pouco vai escurecer e precisamos levar os cavalos para o estábulo, o seu é rápido, já o meu, parece que anda como uma lesma. Cavalgamos bastante hoje, eles devem estar cansados.

― Ah! Hoje que você finalmente deixou aquele monte de livros e a parafernália do doutor Alef um pouco de lado, e lembrou que tem uma irmã. Já quer ir embora?

― Não sei de que adianta se onde você encosta dorme. Eu hein! Por isso está com problemas no Centro Preparatório. Vive cochilando...

― Até parece que é só por isso ― resmungo.

― Ah... posso listar vários outros motivos ― ele diz se divertindo, mas depois muda a feição e fica sério.

― Já vai começar...

― Você sabe que amanhã vão começar as provas. E já faz um tempo que você sabe disso. E precisava se dedicar porque sua pontuação está baixa. Mas, o que você fez a semana toda, quando não estava no Centro Preparatório?

― Eu precisava desenhar... você não entende ― tento me defender.

― Aquela história ainda não colou.

― Eu vejo coisas. E preciso desenhar para não esquecer.

― Coisas, é? ― ele diz em tom de incredulidade.

― Não me julgue! Se eu tivesse outra opção, você nunca saberia nada disso.

― O cara dos sonhos...

Bufo incomodada com o tom dele.

― Não é só ele ― começo a me levantar ― Vamos! Vou te mostrar uma coisa.

Andros não deu muita confiança, mas me seguiu pelo deque e deixamos as marcas de nossos pés molhados pela madeira. Montamos nos cavalos e ele me seguiu pela fazenda. Pouco antes do pôr do sol nos aproximamos da porteira da entrada da fazenda.

― É aqui. ― Digo encarando-o de cima do cavalo, o meu é bem mais alto que o dele. E rio por dentro com isso.

― O que tem aqui? ― ele pergunta debochado.

E ficamos parados. Eu com a impressão incômoda de sempre. E Andros com cara de parvo me achando louca.

― Você não tá sentindo?

― O quê? ― ele aperta os olhos parecendo divertir-se.

― Uma sensação estranha? De algo nos observando. Não sei explicar bem...

― Nada fora do normal ― ele me observa por um momento e se inclina um pouco em minha direção. ― Você tem estado estranha ultimamente.

― Se passasse mais tempo comigo perceberia que isso não é verdade. ― respondo áspera, e sigo com meu raciocínio ― É só uma impressão. Não gosto dessa porteira.

― Se eu fosse você tomaria um bom banho e me debruçaria sobre os livros, porque amanhã é um dia decisivo. E eu não estarei com você para ajudá-la. ― diz Andros ignorando totalmente meus receios sobre aquele lugar.

― Você não deu a mínima para o que eu disse ― ele dá um leve sorriso. Bufo aceitando que não adianta insistir. ― Se não tivessem nos separado eu não estaria tão mal. ― digo e ele continua rindo. ― Não seja condescendente. Sabe que não gosto de lá, vou porque sou obrigada. Graças a você!

― E você sabe que precisamos passar naquela prova se quisermos a nossa liberdade. Então acho que você precisa se dedicar um pouco mais, não?

Fecho meus olhos custando a concordar, mas ele devia estar certo.

― Prometo que vou passar a noite estudando. E amanhã eles terão o melhor de mim.

― Espero que sim.

 

***

Lúcio andou misterioso durante a semana. Não pegou no meu pé. Deve ter algo acontecendo. Mas ele nunca me conta nada, então vou aproveitar o tempo sem a supervisão exagerada dele.

Na escrivaninha do meu quarto separo o material que preciso estudar, depois anoto os tópicos e começo. Então ouço uma batida na porta.

― Oi...― grito.

― Só dando uma passada para dar boa noite e desejar boa sorte amanhã ― Andros diz com a cabeça para dentro do quarto.

― Pra nós dois, apesar de que eu vou precisar mais.

Ele sorri e vai embora.

Eu começo minha vigília de estudos. Mas, logo minha atenção começa a se dividir com os desenhos que deixei por ali à vista. E quando percebo, estou sentada no meio de um gramado. Logo mais em frente, vejo a fumaça saindo de uma pequena chaminé de pedras. Era uma casa simples, como uma cabana. E ouço uma voz me chamar...

― Eva...

No momento em que me viro para ver ... tudo se torna branco. Como um grande infinito, sem começo nem fim. E o vejo ali, longe de mim. Sentado abraçando as pernas. Parecia amedrontado. Aquele que não consigo esquecer, cujo olhar me assombra o tempo todo, mas que não sei nem o nome. Mas, que quando fecho os olhos aparece de repente. Quando o vi desse jeito, o ímpeto de correr para protegê-lo me dominou. Mas um som assustador me fez congelar. Foi um grito sinistro chamando meu nome. Meu coração dispara e quando viro o rosto para olhar, já estou em outro lugar. É um mercado. As pessoas passam por mim como se eu não estivesse lá. É um mercado incomum, me parece de uma época diferente. As pessoas estão diferentes, falam diferente. Mas estranhamente eu as compreendo. Então, percebo algo estranho em meu rosto, refletido em uma poça d’agua. Uma cicatriz estranha no rosto. E ouço novamente alguém me chamar.

― Eva?

Quando me viro ele está lá novamente, e algo no céu chama minha atenção. Um homem com asas no alto da torre. Ele me olha intrigado. E percebo que também o conheço.

E ao menor movimento, estou sentada olhando o horizonte, e ele está ao meu lado, com os olhos marcantes refletindo a luz do pôr do sol e os cabelos avermelhados acompanhando a brisa. Nunca o vejo claramente e seu nome ainda é um mistério para mim.

― Eva! ― Ouço outra vez me chamarem, mas dessa vez eu conhecia bem aquela voz ― Eva! Você precisa acordar. É hora de ir. Provas. No Centro Preparatório, lembra?

Andros, prontíssimo para ir para sair, enquanto eu havia dormido de cara nos livros em que tentava estudar alguma coisa.

― Pelo visto você passou a noite estudando.

― Eu me esforcei o máximo ― digo bocejando.

― Precisamos correr. Hoje é um grande dia para nós dois. Pode mudar a nossa história.

― Sim, claro, com certeza...

― Eva? Precisa acordar. Estar desperta. Vamos! Hoje preciso ficar concentrado. Então por favor, não se atrase.

Apenas balanço a cabeça fingindo que ouvi o que ele disse, mas ainda atordoada com a confusão de sonhos misturados e tão reais que tive e, que venho tendo com cada vez mais frequência.

Depois de um banho, me vestir e pegar o café da manhã para levar, encontro Andros com suas anotações, totalmente concentrado.

― Preparado?

― Espero que sim... E você?

― Espero que desenho e cavalos sejam um dos tópicos da prova.

E ambos rimos.

― Hoje nossas vidas vão mudar, você vai ver ― ele diz.

Apenas sorrio para ele...e olho para o alto da porteira enquanto seguimos até o Centro Preparatório.

Tento me concentrar, mas minha cabeça não para de ir e vir daquele sonho. Espero que na hora da prova minha mente me deixe fazê-la.

Espero que Andros tenha razão, e que depois dessas provas... tudo finalmente vai mudar.

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